A história das civilizações mostra que a invenção e popularização de novas tecnologias têm o poder de mudar definitivamente as dinâmicas das cidades.
Desde as novas tecnologias elétricas e à vapor, responsáveis pela urbanização das metrópoles no século XVIII, até as novas tecnologias da informação e comunicação, que têm produzido as chamadas “cidades inteligentes” em países centrais. As técnicas mudam, e as formas de construir edificações e bairros mudam em seguida.
Segundo dados da ONU, até 2050 mais de 70% da população mundial viverá em complexos urbanos. Por isso a importância da otimização de todos os processos que envolvem o desenvolvimento de cidades. Torna-se fundamental a adoção de boas práticas e padrões para melhorar o desempenho da sustentabilidade nestes ambientes.
No que se refere à construção civil, além de novos maquinários e equipamentos digitais que aceleram o desempenho, as mudanças observadas na gestão de recursos nas obras são outro marco da chegada destas tecnologias atuais.
Por sua enorme capacidade de geração de dados, as tecnologias da informação e comunicação permitem o controle absoluto dos processos e dos números. Assim, podem ajudar na gestão de operações complexas como as da construção civil, em suas etapas de planejamento, execução, venda, e gestão dos recursos.
É assim que a produtividade aumenta, acompanhada também de um grande ganho na área da sustentabilidade ambiental.
Construção civil e cidades inteligentes
Estes critérios vão ao encontro da tendência global de criação de cidades mais inteligentes, que atendam às demandas atuais nos campos da economia, do meio-ambiente, do planejamento urbano, da tecnologia, da mobilidade e do transporte, do capital humano e da governança.
Como contribuição da construção civil na produção de cidades mais inteligentes, questões como automação predial, redução de emissão de carbono, e reaproveitamento de água e resíduos da construção, estão diretamente ligadas a uma mudança de cultura no setor, e podem ser impulsionadas pelo aumento das novas tecnologias nos processos de gestão.
Quando se fala do mercado de construção e incorporação no Brasil, a chegada de novas tecnologias nos processos vem acontecendo aos poucos, quando comparada a outros países.
Um relatório da Delloite, publicado em fevereiro de 2023, divulgou uma pesquisa realizada com 144 empresas do setor. Quando questionadas sobre ganhos de eficiência nos projetos conduzidos com ajuda de novas tecnologias, responderam que:
- 41% afirmaram que aplicam tecnologias individuais para cada atividade ou projeto
- 32% disseram que “apenas para poucos indicadores que consolidam essas atividades ou projetos”
- 11% afirmaram que utilizam, mas apenas para grandes ou novos projetos.
Entre as consultadas, 75% notaram ganhos de eficiência com redução de horas ou gastos em seus projetos.
Na outra ponta, cidades como Londres, Nova Iorque e Paris, hoje as três principais smart cities do mundo, por sua posição na economia global, avançaram significativamente na adoção de novas tecnologias na construção de cidades na última década.
Segundo dados da FGV, mais de 50% das cidades europeias com mais 100 mil habitantes já implementaram iniciativas que vão ao encontro do conceito de cidades inteligentes.
No que se refere à adoção de novas tecnologias na gestão da construção das metrópoles, as cidades que se destacam são Hong Kong, Dubai e Abu Dabi.
Segundo o relatório Cities in Motion Index, divulgado em 2022, em comparação com as cidades do mundo inteiro, as metrópoles brasileiras que se destacam são: São Paulo (na 130ª colocação), seguida de Rio de Janeiro (na 136ª colocação), e Curitiba que ocupa o 153º lugar.
Operações inteligentes na construção
Na prática, tornar os processos na construção civil mais inteligentes pode significar:
- Implementar soluções como a digitalização de rotinas
- Adotar a computação em nuvem
- Apostar em marketplaces
- Realizar a integração digital de processos
- Adotar políticas paperless
Mais à frente, o uso de softwares integrados ao BIM (Building Information Modeling) pode garantir projetos mais eficientes, inclusive do ponto de vista da eficiência energética. Segundo informações da Sienge, a operação de edifícios representa a principal demanda de eletricidade do Brasil, responsável pelo consumo de quase 50% do total produzido.
Por isso, a indústria tem se dedicado a desenvolver soluções que tornem a operação de edifícios mais inteligente, como: os elevadores eficientes, sistemas de refrigeração econômicos, iluminação de led, energia solar fotovoltaica e sistemas para reuso de águas pluviais, entre muitas outras.
Neste trabalho, softwares podem identificar pontos críticos de consumo energético de um edifício, determinando as práticas de otimização do consumo, como isolante térmico e telhado verde. Estas são iniciativas que melhoram a sustentabilidade da construção e contribuem para os indicadores “inteligentes”.
Como não poderia deixar de ser, a inteligência artificial também tem atuado positivamente na transformação digital dos processos de construção civil. No que se refere à gestão de resíduos, com ferramentas que conectam as indústrias às empresas que utilizam resíduos como matéria prima. Existem ainda aquelas que disponibilizam soluções online para o gerenciamento, transporte, e destinação destes resíduos, por exemplo.
Outro tipo de aplicação que digitaliza a gestão são os softwares de tipo ERP, que permitem o acompanhamento da compatibilidade entre o planejamento e a execução dos projetos, contribuindo para que as obras tenham menos erros, retrabalho e perda de material.
A digitalização segue sendo apontada como um forte fator no crescimento do setor da construção civil que, segundo o IBGE, cresceu 9,7% em 2021. Além de ser uma tendência de mercado, a transformação digital deixa evidente o grande elo entre as indústrias, construtoras e incorporadoras e o planejamento urbano, na criação de cidades mais inteligentes para o futuro.
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